domingo, 25 de setembro de 2011

REQUALIFICAÇÃO (PARTE 1)

Everybody knows that our cities were built to be destroyed.”
Caetano Veloso

Difícil assumir esta constatação de Caetano na música "Maria Bethânia", pois quando se planeja uma cidade e se realiza obras, o que temos em mente é a concretização de um projeto realizado de acordo com as necessidades e tecnologias do momento. E é a aí que tudo se torna fugaz, pois tanto as necessidades quanto os recursos tecnológicos estão em constante mutação de acordo com a sociedade e o ambiente em que se vive.
Mas os bens imóveis e logradouros que adquirem o valor de patrimônio histórico, arquitetônico ou artístico de uma cidade (tombados ou não), perdem a perspectiva da fugacidade e são colocados contra a tendência natural de reconstrução das cidades.
Muitas vezes, o desejo de preservação de um patrimônio se choca com perspecivas de novos projetos para uma área urbana, e o patrimônio recebe a identificação taxativa de ser um entrave ao desenvolvimeto.
Não vou entrar na área de planejamento urbano, até porque não é minha epecialidade, mas me atrevo a dizer que não há como realizar um bom planejamento urbano dentro da dinâmica governamental instituída em nosso país, que é renovada a cada quatro anos. Este panorama piora quando os responsáveis pela área de urbanismo são mais políticos do que profissionais capacitados para trabalhar em uma área tão complexa e mutante.
E é neste panorama que as cidades vão crescendo. Pequenos vilarejos se tornam municípios, pequenos municípios se tornam grandes cidades e grandes cidades se tornam grandes metrópoles.
As áreas mais antigas das cidades são seus primeiros núcleos de edificações que formam os centros urbanos. Com o passar dos anos e crescimento das cidades, os centros urbanos, instituídos como área de maior concentração dos serviços e equipamentos de uso da sociedade, são reconhecidos também como centros históricos e novos centros de serviços e comércio são criados.
CENTROS URBANOS
X
CENTRALIDADE
Neste primeiro capítulo sobre Requalificação Urbana, vamos entender os vários processos de reconstrução das cidades e como o patrimônio era compreendido em cada período da história, a começar pelas reformas urbanas ocorridas diante do processo industrial instituído primeiramente na Inglaterra (meados do século XVIII) e que expandiu pelo mundo a partir do século XIX.
O processo de industrialização provocou o inchaço das cidades, com a migração de pessoas do campo, que abandonavam a lavoura e a manufatura para trabalharem na indústria. A crescente população se acomodava em bairros operários e nos centros das cidades, sem planejamento e infra-estrutura suficientes, ruas estreitas, precário sistema de esgotos, o que ocasionaram sérios problemas de salubridade.
Neste contexto, nasce a busca por uma cidade perfeita e racionalmente organizada de acordo com os novos parâmetros da industrialização.
O primeiro processo de requalificação foi o de EMBELEZAMENTO URBANO, no final do século XIX e início do século XX, tendo como premissas o saneamento, a higiene, a fluidez viária e o embelezamento da cidade através dos monumentos mais importantes.


Exemplos:
Plano Haussmann - Paris (1851 a 1870)
Plano de Extensão de Barcelona engenheiro Ildefonso Cerdà,1859


 O segundo período de requalificação é conhecido como RENOVAÇÃO URBANA, no pós-guerra, entre as décadas de 1950 e 1960, com obras de setorização e habitacionais, seguindo as concepções da cidade moderna da Carta de Atenas.

Segundo os preceitos dos modernistas a nova cidade deveria propocionar salubridade, banhos de sol, campo livre pontuado por edifícios isolados, velocidade e higiene.


Ao mesmo tempo, foram os modernistas que reconheceram a importância da preservação das edificações do passado, como bens de valor para a história e identidade de uma sociedade. Surge então um dilema entre a tábula rasa (só a partir do vazio é possível pensar o novo)  e a preservação (edifício isolado).

Muitas críticas são feitas à cidade moderna no que refere à preservação de monumentos isolados do contexto urbano, o que influenciou o terceiro processo de requalificação denominado PRESERVAÇÃO URBANA, entre os anos 70 e 80, cujos objetivos eram a valorização da memória, a organização da sociedade em defesa do patrimônio e o reconhecimento do centro como gerador de identidade e orgulho cívico.
Neste período, a globalização e a consequente padronização das cidades, estimulam o processo conhecido como "city marketing", que define a cidade como mercadoria a ser oferecida no mercado global com distinção da cultura local. Entre os exemplos do marketing city podemos citar Curitiba e o Pelourinho em Salvador.
A concorrência entre as cidades ocasiona a quarta fase de requalificação denominada REINVENÇÃO URBANA, a partir dos anos de 1990, com intervenções pontuais que qualificam a cidade, como é o caso de Bilbao e das cidades que sediaram jogos olímpicos.
Por fim, vivemos atualmente a fase de requalificação denominada de PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, que correspondem a um conjunto de medidas que são tomadas para se atingir metas pré-definidas, geralmente como respostas a problemas de moradia, segurança, trânsito, falta de emprego ou poluição. O Planejamento Estratégico é uma ação conjunta entre os setores públicos e privados (investidores), que muitas vezes transforma um espaço urbano de interesse da coletividade em um espaço objeto de negócios.

(ESTE ARTIGO, DE AUTORIA DE ALESSANDRA BALTAZAR, NÃO PODE SER COPIADO E DEVE SER USADO EXCLUSIVAMENTE PARA FINALIDADES DIDÁTICAS)


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