domingo, 4 de setembro de 2011

RESTAURO DE PINTURA MURAL

A pintura mural não deve ser confundida com uma pintura comum, pois sua execução está diretamente vinculada à arquitetura e modifica a percepção do espaço, sendo uma pintura que exige muito conhecimento técnico, planos pictóricos em harmonia com o espaço, pinturas resistentes e permanentes sem a utilização de vernizes ou brilhos que prejudiquem a visualização.
            A origem da pintura mural está vinculada à pintura rupestre dos povos primitivos que decoravam seus ambientes com desenhos para expressar idéias, emoções e crenças.


            Ainda sobre a origem da pintura mural, na Antigüidade os povos mesopotâmicos, egípcios e cretenses utilizavam da pintura mural para decorar os palácios e monumentos funerários.



            Das civilizações gregas e romanas, restaram poucos exemplares, mas há vestígios da pintura mural principalmente nas ruínas de Pompéia, onde foram encontrados afrescos eróticos num antigo centro de banhos termais. Pompéia foi destruída pelo Monte Vesúvio que entrou em erupção em 79 d.C, e segundo alguns arqueólogos as pinturas tinham a intenção de ser engraçadas.




             A técnica da pintura mural também foi muito empregada na Índia, com exemplo nas cavernas de Ajanta (Patrimônio Mundial pela Unesco), com pinturas a seco nas paredes e tetos que descrevem a vida de Buda, (200 a.C.).


            A nitidez da cor e a precisão do traçado dos perfis caracterizou a pintura mural da Idade Média, principalmente das construções românicas, nas quais costumavam receber afrescos as igrejas, com figuras religiosas e atitude hierática.
            Os naves das igrejas românicas eram decoradas com pinturas murais com cores intensas e perfeitamente harmonizadas com a arquitetura. Seus desenhos iam das formas da antiga pintura romana aos ícones bizantinos. Os traços faciais eram acentuados por contornos de traços grossos e escuros.


            Para desenvolver esse tipo de pintura mural, os artistas do românico em geral recorriam às técnicas da pintura do afresco, misturando a tinta com água de cola ou com cera.
No século XIII, os trabalhos de Giotto deram extraordinário impulso à pintura mural e, a partir de então, surgiram os grandes mestres dessa técnica.



            Os afrescos dos séculos XIV e XV eram feitos com esboços em tamanho natural diretamente sobre o reboco que antecede a massa fresca a ser colorida.



“À época, predominava o método da incisão direta para marcação nos trechos de argamassa fresca. Neste caso, as formas mais gerais e delineamentos básicos das figuras vinham traçados com uma ponta-seca diretamente sobre a massa e o sulco deixado pela ponta do instrumento era preenchido com um pincel molhado, em especial pigmento vermelho”.(O restauro de um Mural Moderno na USP: O Afresco de Carlos Magano, p.74).

         






          No Renascimento, foram criadas algumas obras-primas do muralismo, como os afrescos de Michelangelo para a Capela Sistina e a Última Ceia de Leonardo da Vinci.



            No período Renascentista as composições eram traçadas no papel, ampliadas e transferidas para a parede pelo método spolvero (pequenos furos em toda extensão do desenho, onde se apóia o papel na penúltima massa e os furos são tamponados com carvão em pó, marcando os traços principais) ou por meio de decalque, que geram bordas arredondadas resultantes da interposição do papel.

            A decadência da pintura mural se deu no Ocidente, devido aos interesses pela tapeçaria e vitrais para decoração de interiores.
            No século XX a pintura mural ganha um novo impulso, se dividindo em três fases:
1-    Cubistas e fauvistas de Paris que desenvolveram um gênero mais expressionista e abstrato (Picasso, Matisse, Miró, Léger e Chagall)
2-    Movimento mural na década de 1930 nos EUA
3-    Movimento Revolucionário Mexicano

       O Muralismo mexicano teve início com a Revolução Mexicana de 1910. Foi um movimento revolucionário de manifestação genuinamente nacional contra a pressão estrangeira e pelo fim da ditadura.
Tratou-se de uma arte monumental e política visando revalorizar a cultura pré-hispânica, com representações de indígenas, conquistadores espanhóis, camponeses, operários, políticos e revolucionários.


Os principais pintores deste movimento foram Diego Rivera, influenciado pelos afrescos renascentistas que pintou principalmente o indigenismo, a industrialização e a história do México; Davi Alfaro Siqueiros, com exaltações à liberdade e ao anti-capitalismo;  e José Clemente Orozco que pintou temas sobre a conquista e evangelização do México.

Pintura Mural no Brasil

           
            Tradição ornamental das igrejas coloniais, a pintura mural está presente em muitos forros de madeira das igrejas de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Goiás e São Paulo.
            Sobre a forma de aprendizagem da pintura, um processo de 1777 que tem por autor o pintor nativo João Batista de Figueiredo e por réu o pintor português Manoel Rabelo de Souza, exemplifica quem eram esses pintores e como atuavam.
            Consta no processo a cobrança do autor de uma quantia de 36 oitavas de ouro devidas pelo réu, por pinturas executadas, o qual o réu alega que João Batista, na época era seu aprendiz, não tendo direito ao pagamento.
            Os acordos entre pintor e aprendiz eram semelhantes aos “contratos de servidão” encontrados em Portugal, onde ficava rigidamente estipulado o papel de cada um: ao mestre, caberia ensinar os fundamentos e a prática da pintura e/ou douramento, conforme fosse a sua especialidade – se pintor a óleo, a têmpera ou somente dourador -, em um período que podia variar de três a nove anos, incluindo o fornecimento de cama, roupa, alimentação e educação; ao aprendiz cumpria servir o mestre com total obediência, preparar os pincéis e moer os pigmentos para preparo das tintas, executar pequenas tarefas do ofício e outras de índole servil; ao pai ou responsável pelo aprendiz ficava a obrigação de um pagamento ao mestre.
A pintura mural se desenvolveu no Brasil em finais do século XIX, pelas famílias de fazendeiros que construíam suas casas burguesas na cidade e queriam identificá-las com a cultura européia.
            As pinturas artísticas eram representações de status e individualidade.
            Para a execução da pintura havia uma equipe formada pelo fundista (que fazia as pinturas lisas e o fundo), o estucador (que realizava as sancas e frisos), o gesseiros para fazer os relevos, o dourador para a aplicação de folhas metálicas, o decorador (responsável pela obra e pelas finalizações) e os especialistas em desenhos de flores, frutas ou paisagens.
           

“Todas as casas ricas ou burguesas recebiam alguma decoração parietal, nem que fossem simples acabamentos dos barramentos; praticamente não existiam paredes pintadas com uma única cor. As tipologias técnicas de pintura e os temas adotados nos murais eram definidos a partir dos desejos e posses dos proprietários, mas seguiam certas regras relativas à função que cada cômodo exercia no programa habitacional.” (Casa de Dona Yayá, pp. 106 e 107)
           



          A decadência da pintura mural no Brasil ocorreu no século XX, com o surgimento de novos conceitos arquitetônicos avesso aos ornatos e o desenvolvimento industrial com novos materiais de revestimento.
         Com o advento da arquitetura moderna a decoração artística dos ambientes declina e a pintura mural é considerada excessiva e inútil.
         Nos anos 50 do século XX ocorreu um retorno dos painéis muralistas. 


AFRESCO: pintura mural mais antiga que utiliza da aplicação de pigmentos de cores diferentes, diluídos em água, sobre argamassa fresca de cal queimada e areia. O esboço do afresco é feito com terras coloridas, ou então da amarração de fios batidos no pigmento (quadriculado). O tempo para a pintura é de um dia e meio antes de secar. O afresco adere totalmente à massa, se respeitado o prazo antes da mesma secar. Cal+areia+água+cor formam uma estrutura cristalina que chega à secagem superficial completa de dois a três dias. (processo de nitratação).


ETAPAS:
1-    Preparo do suporte (tijolo, pedra ou madeira): regularização, aplanamento de superfície.
2-    Argamassa: correção de irregularidades com recobrimento com uma massa grossa (emboço / chapisco) e com massa preparatória (reboco). Na pintura sobre madeira não tem argamassa.
3-    Massa de preparação: massa corrida (cal e areia). Na pintura na madeira a massa de preparação é gesso e cola.
4-    Imprimadura: utilizada apenas na pintura à seco, a imprimadura tampa os poros da massa com uma camada imperceptível do mesmo médium (óleo ou água) do pigmento, saturando a parede para prepará-la para receber a pintura.
5-    Jornadas: são divisões na massa, sulcos que determinam a velocidade da pintura e a quantidade de ajudantes. O esboço também pode ser feito com grafite. As jornadas são contornos de um determinado trecho, que devem ser feitas do alto, da esquerda para a direita em sentido horizontal.
6-   Pigmentação: pigmento+médium (óleo) = pintura a seco                        pigmento+água = pintura afresco. A têmpera é uma tinta à base de água com aglutinante(amido, cola ou óleo), sendo que quando utilizadas em murais formam pinturas mais grosseiras. As variantes de cores para a tinta à óleo é infinita, ao contrário do afresco, por causa da cal (substância agregante por excelência).
7-    Acabamento: Verniz só para pintura à seco
8-    Depósitos: sujidades e sulfatações (camada da ação do tempo)          

            A pintura a seco fixa ao suporte por adesão, formando uma película sobre o muro seco e pode ser á óleo ou têmpera.
A pintura afresco fixa o pigmento por coesão, integrando totalmente à massa.
           
           A última massa enquanto úmida é transparente e permite visualizar o desenho preparatório.
            “Se a massa fina começa a enxugar e a jornada planejada ainda não estiver completa, é necessário quebrar o trecho em processo de secagem adiantada e recomeçar no dia seguinte”.(O restauro de um Mural Moderno na USP: O Afresco de Carlos Magano, p.75).
           
         O maior problema de perda de mural é a questão do suporte, acúmulo de massa ou massa mal preparada.

PROSPECÇÃO CROMÁTICA PARIETAL
            No trabalho de prospecção conseguimos detectar a quantidade de extratos de tinta, textura, coloração e desenho utilizado na pintura mural.
            Para se realizar uma boa prospecção deve-se fazer faixas estratigráficas de sondagem preliminar em alturas diferentes, até a camada da argamassa.


            A sondagem trabalha com a hipótese e o programa arquitetônico, baseando-se na origem do edifício, época e proprietário.
            As faixas estratigráficas estabelecem marcos temporais.
            O processo de decapagem consiste na remoção gradativa das tintas novas que recobrem as pinturas de interesse e posterior consolidação do substrato das pinturas.
           
RESTAURO
            Para se realizar um bom restauro de uma pintura mural é preciso ter conhecimento dos conceitos de conservação, física, química dos aglutinantes e pigmentos, interação entre camadas, preparação de tintas e de suportes.
            No restauro de um mural não se usa material orgânico, pois não são duráveis.
            A limpeza dos murais se faz através de um processo de migração para a polpa da celulose (retirada das cristalizações superficiais).


 

2 comentários:

  1. Quando falamos em conservar ou restaurar temos que levar em conta os conhecimentos e profissionais de diversas áreas, que deverão assim trabalhar em cima de conceitos técnicos e científicos, aplicados de acordo com a situação de cada pintura a ser conservada. A pesquisa de materiais e técnicas estão em constante evolução, devido ao interesse pela conservação do patrimônio cultural e ao resgate mais legitimo dos elementos que ele possui.

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  2. São maravilhosas pinturas rupestre ....a restauração dos mural são bom para todas a geração conhecer com era a tecnica que ele usaam quando ..tinta pronta não existia ..e como é rico em detalhes....

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