segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ANALISE DE PROJETO DE EDIFICAÇAO HISTORICA ADAPTADA PARA USO CULTURAL COM A CONSTRUÇÃO DE ANEXO

      
CAMILA RIBEIRO JORDÃO 
4º ANO ARQUITETURA E URBANISMO

     Em se tratando de prédios que tenham um certo valor histórico, pensei como exemplos para serem discutidos a Estação Júlio Prestes e a Pinacoteca do Estado, que segundo artigo Haroldo Gallo publicado no site ARCOWEB (http://www.arcoweb.com.br/artigos/haroldo-gallo-julio-prestes-28-03-2001.html) representam um paradoxo nas intervenções de dois edifícios preservados.Ambos são da virada do séculos XIX e XX, localizados em São Paulo e paradigmáticos desse período.

Pinacoteca



      "O edifício projetado para o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, foi construído entre 1897 e 1900, com autoria de Ramos de Azevedo e Domiciano Rossi. O Liceu esteve  ligado à cultura do ciclo cafeeiro, à imigração e à posterior industrialização de São Paulo como centro de excelência na formação de mão-de-obra qualificada. Ele foi proposto dentro dos padrões e linguagens do classicismo e o programa de necessidades não foi o critério norteador do partido de projeto. Em seu plano original a planta organizada por meio da constituição de eixos de simetria hierarquizados e alçados, compostos com elementos de inspiração classicista, com o conjunto edificado coroado em seu centro geométrico por uma gigantesca cúpula (não executada).
   Seu uso como Pinacoteca remonta a 1905, quando, ainda sob o comando de Ramos de Azevedo, uma sala do Liceu foi ocupada. Após obras sucessivas de caráter muitas vezes emergencial, o projeto foi finalmente confiado ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha e concluído em 1998. De forma coerente com o conjunto de sua obra, o arquiteto interferiu no espaço e modernizou-o de maneira radical.
   Um dos focos centrais de seu partido foi a inversão do eixo principal do edifício e de sua entrada da avenida Tiradentes, que atravessa transversalmente o bloco edificado. A entrada do público passa a se fazer pela antiga lateral do edifício, pela praça da Luz, e o eixo principal passa a atravessar o bloco edificado longitudinalmente. Com a inversão da entrada original, a escada existente, que era de mármore, foi retirada e substituída por um belvedere com acesso pelo nível interno do átrio, que constitui uma saliência metálica em forma de meio cilindro.
   A circulação interna, que se fazia pelo contorno de dois pátios e através de um octógono central, agora passam por meio de passarelas metálicas de ligação, que estabelecem nova circulação transversal em quatro eixos. Todo esse conjunto foi coberto com grelhas metálicas e vidros, formando três planos praticamente contínuos de iluminação zenital.



     A questão conceitual mais aceita, no projeto da Pinacoteca, foi a preservação patrimonial .O partido arquitetônico do projeto, não se preocupou com estabelecer relações e diálogo entre os conceitos do projeto clássico contidos na proposta de Ramos de Azevedo e aqueles da proposta de intervenção e modernização.

   Espaços foram articulados e interpenetrados através da alvenaria remanescente e agora vinculada aos novos elementos arquitetônicos modernos."



 Acho que nestas adaptações de edificações históricas para uso cultural é inegável que o uso é fator de enorme relevância na preservação de um bem cultural, que novos usos demandam alterações em velhas estruturas materiais, reintegrando-as à vida. Mas há uma sutil relação de intensidade entre o velho e o novo, entre a tradição e a inovação, que deve ser norteadora do teor da intervenção: em preservação, a inclusão do novo só se justifica quando este agrega valor ao preexistente, não se justificando a qualquer custo e particularmente quando coloca em questão a própria natureza e as regras de composição do objeto arquitetônico original.

Estação Júlio Prestes


    "O advento do café determinou uma profunda transformação na vida brasileira, deslocando os centros econômicos e de concentração demográfica do Nordeste e do Leste do país para o Sul. Ligam-se indissoluvelmente à economia cafeeira dois eventos históricos fundamentais: a colonização - empreendida com trabalhadores livres europeus - e a estrada de ferro, cujos promotores foram os fazendeiros. Vincula-se à cultura cafeeira a expansão ferroviária, da qual nasceu a Companhia Sorocabana.
     Foi em 1925 que se iniciou o projeto da nova estação terminal da Sorocabana, denominada Júlio Prestes. Ele foi confiado ao arquiteto Christiano Stockler das Neves. A vinculação de Christiano com a cultura norte-americana levou o projeto a seguir as linhas da Grand Central Station de Nova York e a receber influências da estação da Pensilvânia, por seu lado influenciada pelo gosto francês que privilegiava a forma palaciana de construção: a simetria, os jogos de luz e sombra e a monumentalidade.



      Na década de 40 inicia-se o declínio da era ferroviária, que se estende e se acentua até a década de 60, quando começa também a decadência da estação Júlio Prestes. Só na década de 90 o governo do Estado, no bojo de outras intervenções significativas de restauração e modernização do patrimônio edificado em áreas deterioradas da cidade, decide iniciar os procedimentos de restauro da estação Júlio Prestes. Um novo uso cultural foi entendido como âncora para a requalificação de seu entorno. A essa idéia somou-se o encaminhamento do problema da consolidação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, tendo sido o empreendimento mediado pelos técnicos do órgão de preservação estadual.  

     O conceito inicial da intervenção para sua adequação ao novo uso veio da articulação dos preceitos de acústica para a sala de música, com projeto de autoria da Artec Consultants, de Nova York, e dos determinantes do projeto arquitetônico de autoria de Nelson Dupré. A instalação da sala de música deu-se no antigo grande hall da estação, com 1000 m2, pé-direito de 24 m e dimensões que o aproximam da forma de uma caixa de sapato - do ponto de vista acústico, ideais para uma sala de concertos.




                                                                                                                                                                   
     O partido do projeto implantado optou pelo palco ao nível da circulação dos corredores laterais, com o rebaixamento de piso para a localização da platéia. Fato que permite a fruição das 32 colunas gregas com capitéis florados de sustentação da sala em sua integralidade, sem interrupção visual. Um conjunto de posturas que respeitaram as características originais do bem cultural sob intervenção, sem que isso entravasse a necessária adaptação e modernização do espaço. "


   Nessa adaptação de edifício histórico para ocupação cultural, na minha opinião, devem realizar intervenções de forma adequada e criteriosa, preservando os valores e as características da concepção original.Só assim será possível agregar valores novos que estabeleçam diálogos ou destaquem os preexistentes. Além de afirmar a contemporaneidade das intervenções, é preciso respeitar o legado arquitetônico do passado.


2 comentários:

  1. CAMILA: Porque o autor denomina os projetos de paradoxos?
    1º passo: entender o texto
    2º passo: descrever as principais críticas do autor
    3º passo: expor sua opinião a favor ou contra o autor e argumentar

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  2. Camila Hannah Bevilacqua12 de setembro de 2011 às 21:45

    Acho incrível a Pinacoteca e a Estação, nada como ter o prazer de acompanhar intervenções em plena manhã de terça feira na estação, ou babar nos grandes artistas que expoem na pinacoteca. Adorei a matéria.

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