Nome do aluno: Luiz Fernando de Oliveira
SOBRE A REPORTAGEM 1
Título: Mais antigo teatro do interior de SP, o “belo parado” quer reviver
glória.
Fonte:
Data: 03 de abril de 2011.
Fatores deteriorantes
identificados na reportagem:
- Agentes Naturais:
Incêndio;
Ação do tempo.
- Agentes Humanos:
Vandalismo
SOBRE A REPORTAGEM 2
Título: CQC - Proteste Já: Teatro Abandonado
Fonte:
Data: 17 de julho de 2012.
Data: 14 de agosto de 2012.
Fatores deteriorantes
identificados na reportagem:
- Agentes Naturais:
Incêndio;
Ação do tempo.
- Agentes Humanos:
Vandalismo
Mais antigo teatro do interior de SP, o “belo parado” quer reviver
glória
Abandonado e bastante deteriorado, o
histórico prédio que abrigava o Teatro Carlos Gomes, inaugurado em 1894 em
Bragança Paulista, deve ter sua reforma e restauração iniciadas nos próximos
dias. Depois de abrigar casa de espetáculos, colégio, faculdade e escola
técnica, o imóvel vai recuperar, com juros e correção monetária, sua vocação
original: além de teatro, em seus 3,7 mil m² funcionará um centro cultural com
biblioteca, museu, escolas de dança e música e espaço de exposições.
A obra está orçada em R$ 8,5 milhões –
sendo R$ 6,5 do governo do Estado e o restante dos cofres públicos municipais.
“Esperamos iniciar o trabalho em 45 dias e reinaugurar o espaço dentro de 2
anos”, promete o vice-prefeito Luiz Gonzaga Pires Mathias (PSDB), economista e
autor de dois livros sobre a cidade, Bragança 2000: Um Caminho e Em Busca dos Marcos Perdidos: História
de Bragança. “Sempre tive vontade de recuperar esse prédio, na
minha opinião o mais bonito da cidade, que estava muito estragado, muito
decrépito”, comenta o arquiteto Affonso Risi, autor do projeto. Bragantino de
nascimento – ele mora em São Paulo desde 1965, quando tinha 18 anos –, Risi
jamais perdeu o vínculo com a cidade.
História. Quando foi inaugurado, com pompa e circunstância, o
Teatro Carlos Gomes tinha capacidade para 1,2 mil espectadores – Bragança
contava então com menos de 40 mil habitantes; hoje são 147 mil. A
riqueza dos fazendeiros do café financiou a construção do prédio, entre 1892 e
1894 – não há registro nos arquivos municipal de quem teria sido o arquiteto
que o projetou.
Para entender o que isso significava, São
Paulo só teria o seu Teatro Municipal dezessete anos mais tarde, em 1911. Segundo
pesquisas do Condephac – o órgão de proteção ao patrimônio de Bragança –, o
Carlos Gomes foi o primeiro teatro do interior paulista.
E, de acordo com registros em anúncios de
jornais antigos, não era apenas local de entretenimento da elite, que podia
pagar caros ingressos. Havia na bilheteria preços para camarotes, cadeiras e
até os tíquetes baratos para quem ficasse em pé ou levasse de casa seu próprio
banquinho.
No início dos anos 20, entretanto, com o
princípio de ocaso da riqueza cafeeira, a efervescência cultural da cidade
amargou a decadência. “Ficou provado que ter feito um baita de um prédio assim
naquela época era coisa de malucos. Sem público, o teatro não
foi para a frente”, contextualiza o vice-prefeito Mathias.
O imponente teatro enfrentava sua primeira
crise e chegou a ser utilizado para os mais diversos fins: de bailes a chás da
tarde da alta sociedade bragantina a espaço para estande de tiro ao alvo, pista
de patinação, carrossel para crianças e estabelecimento para lavagem de roupas
sujas. Por algum tempo, chegou a sediar uma fabrica de jacás utilizados para a
exportação de toucinhos. “Até que chegou ao fundo do poço: sendo ocupado por
pedintes e sem-teto”, diz Mathias. Não à toa, ganhou o apelido de o “belo
parado”.
Tempos áureos. Em 1927, graças a um acordo firmado entre a Câmara e a
Diocese, o local se transformou no Colégio São Luiz. Administrada por padres
agostinianos, a instituição tornou-se referência de rigidez e qualidade de
ensino. “Não dá para falar disto sem me comover”, comenta o antigo
professor da escola Angelo Magrini Lisa (1914-2010), no documentário O
Belo Parado, produzido entre 2006 e 2010.
Antigos alunos levados pela reportagem do Estado para visitar o prédio não
conseguiram conter a emoção (são eles quem aparecem nas fotos que
estampam este post). “Os
melhores anos de minha vida passei aqui… Agora está tudo arruinado”, lamenta o
químico aposentado Arnaldo Luiz Consolin, de 69 anos, aluno do São Luiz entre
1951 e 1959. “Os padres não economizavam nos castigos,
mas nos tratavam com amor de pai.”
“É uma judiação ver o colégio assim. Quantos
sonhos não estão fechados aí dentro?”, diz o técnico automotivo aposentado
Ubiratan Lopes Gonçalves, de 72 anos, que foi aluno interno da instituição
entre 1952 e 1954. “A gente aprontava e apanhava com três
bengaladas na bunda”, conta. “Mas o colégio era o majestoso da cidade.
Aprendíamos e nos divertíamos muito aí dentro.”
Um ex-estudante ilustre do São Luiz é o
novelista Manoel Carlos, da Rede Globo. Nascido e criado em São Paulo, ele foi
matriculado no colégio em 1944, quando tinha 11 anos. “Digamos que eu não era
muito comportado. Então meu pai decidiu que iria me matricular como interno lá.
E foi um castigo que resultou numa felicidade, num benefício para mim”, afirma.
Apesar de ter estudado apenas três anos no
São Luiz, Manoel Carlos jamais perdeu o vínculo com a instituição. Costumava
visitar frequentemente o professor Angelo Magrini Lisa até a sua morte, no ano
passado. Alguns anos atrás, chegou a cogitar reunir um grupo de amigos para
comprar o imóvel e transformá-lo em centro cultural. Abandonou a ideia ao saber
que a prefeitura articulava projeto semelhante. “Espero que, da mesma maneira
como eu pensava, eles deem ao local o nome de Angelo Magrini Lisa”, defende.
O Colégio São Luiz entrou em declínio no
fim dos anos 60. Antes de se tornar novamente um “belo parado”, o imóvel
abrigou a Fundação Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista e o
Colégio Técnico João Carrozo – este último, fechado em 2000. Em dezembro do
mesmo ano, o Condephac conseguiu aprovar o tombamento do imóvel. No laudo
técnico, uma observação importante: “exige intervenção imediata”. Pouco tempo
depois, a prefeitura de Bragança compraria de volta o prédio, cuja propriedade
ainda era da diocese.
Nos últimos anos, todos os trâmites foram
articulados para que uma verba oficial permitisse a reforma, agora anunciada.
Enquanto isso, o local era ocupado por arruaceiros, pichadores e usuários de
drogas. Na noite de 10 de junho do ano passado, um susto: labaredas de fogo
consumiam parte do já bastante destruído imóvel (foto
abaixo). “Fiquei muitíssimo triste”,
lembra Manoel Carlos. O incêndio foi causado, soube-se depois, por vandalismo.
Agora todos os olhares bragantinos se
voltam para o “belo parado”. Para que entre escombros, cinzas e história, ele
volte a ser belo e deixe de ser parado. Para que
ele volte a ser majestoso. O mais majestoso prédio de Bragança Paulista.
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