segunda-feira, 10 de setembro de 2012

HISTÓRIA DA SAÚDE EM SÃO PAULO



O terceiro livro da coleção História e Patrimônio da Saúde é resultado do esforço para reunir informações sobre as instituições de saúde de São Paulo a partir de suas edificações. “História da saúde em São Paulo: instituições e patrimônio arquitetônico (1808-1958)” oferece ao leitor – ao longo de seis capítulos – novos ângulos de análise e ressalta o valor dessas fontes documentais até agora pouco exploradas pelos pesquisadores. As transformações históricas que marcaram o hospital podem ser acompanhadas, por exemplo, por suas diferentes nomenclaturas como abrigo, amparo maternal, asilo, assistência médico-cirúrgica, casa maternal, casa de maternidade, casa de saúde, clínica, dispensário, enfermaria, hospital, instituto, maternidade, policlínica, pronto-socorro, recolhimento de dementes, sanatório e hotel-sanatório. O livro sai com um CD-ROM, que traz informações históricas e arquitetônicas sobre as instituições. O lançamento será no dia 30 de novembro, às 18 horas, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
A obra traz ainda homenagem à organizadora Maria Lúcia Mott, que morreu vítima de câncer em junho na cidade de São Paulo. Segundo Gisele Sanglard, com quem ela dividiu a organização do livro, temas como a profissionalização feminina, notadamente das profissões menos valorizadas, a ação filantrópica e a regulamentação da profissão (ambas femininas) foram preocupações constantes da escritora ao longo de sua vida acadêmica.
Criada pela Fiocruz, com apoio da Pfizer, a coleção integra o projeto da Rede Brasil do Patrimônio Cultural da Saúde e é dirigida pela Casa de Oswaldo Cruz (COC). As obras são divididas em duas partes. A primeira é composta de artigos escritos por autores convidados, acompanhados de ilustrações. Já a segunda parte traz histórias das instituições e ilustrações de hospitais, maternidades e casas de saúde, cujo papel foi preponderante para a arquitetura desses locais. Os livros são editados pelas Editoras Fiocruz e Manole.
O livro História da saúde em São Paulo: instituições e patrimônio arquitetônico (1808-1958) narra a importância do hospital na capital paulistana no primeiro capítulo, intitulado “Guerra e paz: alguns cenários da vida hospitalar”, escrito pela historiadora Denise Bernuzzi de Sant’Anna, que faz um diálogo com a moderna historiografia sobre o assunto. Ela mostra como a saúde / doença e a assistência se tornaram objetos do ambiente hospitalar e propõe uma reflexão sobre o papel do hospital na contemporaneidade, focalizando a atuação dos médicos e o funcionamento do sistema de saúde.
O segundo capítulo foi escrito por Renato Gama-Rosa Costa, arquiteto e pesquisador da COC. Em “Arquitetura hospitalar em São Paulo”, ele aborda as transformações dos espaços de saúde a partir do trabalho dos principais arquitetos dedicados à construção de hospitais na capital paulista entre a Primeira República e meados do século 20. Gama-Rosa convida o leitor a conhecer e refletir sobre a tradução dos preceitos médicos no traçado arquitetônico de nomes como Ramos de Azevedo, Ernesto de Souza Campos e Rino Levi. A historiadora Márcia Regina Barros da Silva é autora do terceiro capítulo “Concepção de Saúde e doença nos debates parlamentares paulistas entre 1830-1900”, sobre as Atas do Poder Legislativo de São Paulo, que, segundo a pesquisadora, constituem o caminho de investigação sobre a história da saúde na cidade.  
O quarto capítulo foi escrito por Maria Lúcia Mott, Henrique Sugahara Francisco, Olga Sofia Fabergé Alves, Karla Maestrini e Cristiano Douglas Afonso da Silva. O grupo escreveu sob o título “Assistência à saúde, filantropia e gênero: as sociedades civis na cidade de São Paulo (1893-1929)”, usando como fonte a documentação do 1º Cartório de Notas da Capital (1880-1935), encontrada no Arquivo Público de São Paulo. Os historiadores analisaram o tema das associações civis durante a Primeira República e mostram os diferentes tipos de sociedades – mutuais, filantrópicas e caritativas, “não oficiais”, como as kardecistas, de trabalhadores de saúde, entre outras –, e como elas se constituíram na principal instituição de assistência à saúde no período, ocupando o lugar do Estado republicano, que restringia sua ação ao combate de surtos epidêmicos na capital federal e nos principais portos do país.
No quinto capítulo, “O discurso da excelência em solo paulista – Marchas e contramarchas na criação e instalação do Hospital das Clínicas (1916-1950)”, de André Mota e Maria Gabriela S. M. C. Marinho, discute-se o significado da inauguração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, que nasceu classificado como “o maior hospital da América Latina”.
O sexto e último capítulo, intitulado “As Irmandades de Misericórdia e as políticas públicas de assistência hospitalar no Estado de São Paulo no período republicano” de Nelson Ibañez, Ivomar Gomes Duarte e Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias, dedica-se ao estudo das relações entre os poderes públicos e as Santas Casas da Misericórdia paulistas. O objetivo foi analisar a dependência dos serviços de saúde daquilo que os autores chamaram de modelo hegemônico (as Santas Casas) considerando dois pressupostos básicos: de um lado, a antiga relação entre o estado e as misericórdias, que as transforma em um relevante prestador de serviços do estado, e, de outro, “capacidade de adaptação” às novas exigências do tempo. Os autores analisaram os relatórios da Irmandade da Misericórdia de São Paulo e uma vasta legislação estadual sobre o tema.

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