Nome do aluno: Karynna de Paula Gruber
SOBRE A
REPORTAGEM
Título: Salvador/BA – Sem classificação de patrimônio histórico, Centro Antigo
está deteriorado.
Data: 30 de janeiro de 2012
Fatores deteriorantes identificados na
reportagem: Fator humano
- ignorância
Enquanto a revitalização não vem, patrimônio histórico desaba em
Salvador.
“Derrubar, deitar
ao chão, deixar cair”. O verbete ‘tombar’ anda bem aplicado no Centro Antigo de
Salvador (Centro, Barris, Tororó, Nazaré, Saúde, Barbalho, Macaúbas, parte do
espigão da Liberdade, Santo Antônio e Comércio). As primeiras ruas da cidade,
recheadas de casarões e palacetes do século XX, padecem no abandono,
malconservadas e violentas, à espera de políticas públicas para as centenas de
pessoas que trabalham e vivem na região, muitas na rua. Enquanto a
revitalização não vem, o patrimônio histórico literalmente desaba na
soterópolis.
O Centro Histórico
de Salvador é o único na lista bianual da World Monuments Fund (WMF), que lista
sítios do patrimônio histórico mundial em risco. São 67 locais em 41 países.
Na Ladeira da
Barroquinha ou R. do Couro, a situação constrange. Além da sujeira e da falta
de organização do dia-a-dia, nos fins de semana o cenário é de horror. A poucos
metros, na Pça. Castro Alves, tombada como patrimônio histórico, onde fica o
espaço de Cinema Glauber Rocha, o cenário é outro.
“Graças a Deus,
temos contado com o apoio da polícia junto aos nossos seguranças. Algumas
pessoas já falaram que não vinham por achar que não tinha segurança, mas a
praça não tem esse problema”, afirmou a gerente do espaço, Sandra Santos. Para
ela, no entanto, a Barroquinha, logo abaixo do cinema, é perigosa. “Até os
funcionários comentam”, afirma.
Recursos insuficientes
O Centro Histórico
(do Mosteiro de São Bento ao Santo Antônio Além do Carmo), que virou patrimônio
nacional em 1984 e da humanidade em 1985, passa por uma restauração capitaneada
pelo governo do Estado. Mas o Centro Antigo, contíguo à área de proteção
rigorosa, só é protegido pela Lei Municipal 3.289/83, de preservação do patrimônio,
praticamente inócua.
A maior parte dos
bairros da Saúde e Nazaré, por exemplo, não é tombada, e faltam recursos para
revitalização. Quase R$ 2 milhões foram usados em obras que deveriam terminar
em abril de 2011, o que não aconteceu.
É o caso da Fonte
do Gravatá, na rua de mesmo nome. Lá, moradores e turistas se assustam com o
comércio diuturno de drogas. Segundo o secretário municipal de Reparação,
Ailton Ferreira, cabe à Prefeitura cuidar de detalhes como limpeza,
pavimentação das ruas do entorno, fiscalização do comércio e segurança, o que,
na prática, deixa a desejar. Para ele, a troca de metais usados por drogas
atrai os viciados à região. “Não é saudável Salvador ter um lugar naquelas
condições, como estão o Gravatá e a Independência”, completa.
Projetos são a longo prazo
A coordenadora
geral do Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador (Ercas), Beatriz
Lima, diz que há programas para o Centro Antigo em fase de captação de
recursos. Segundo ela, são ações emergenciais que devem acontecer até 2015, com
verba de R$ 430 milhões.
Para a recuperação
e conservação do Centro Histórico, há o PAC das Cidades Históricas, que anda
mais do que empacado – os recursos da Bahia caíram 93% e só quatro obras, de
46, saíram do papel –, e o Monumenta, do Governo Federal. No Ercas, ligado ao
gabinete do governador Jaques Wagner (PT), o foco é no fomento econômico,
preservação, qualificação dos espaços culturais e requalificação da
infraestrutura. Em dois anos, o escritório confirmou a construção de casas e
equipamentos urbanos da Vila Nova Esperança (Rocinha), a criação de residências
estudantis em casarões no Largo d’Ajuda e a requalificação de fachadas na Baixa
dos Sapateiros.
Cracolândia soteropolitana
As ruas do Gravatá,
do Bângala, do Castanhêda e, ironicamente, do Paraíso, na região da
Barroquinha, são hoje a “cracolândia soteropolitana”. Sem policiamento
reforçado, o desmando reina.
Ailton Ferreira diz
que há ação da polícia, que resultou inclusive na desativação de ferros-velhos
que alimentavam o tráfico. “Não podemos tirar as pessoas porque elas estão se
drogando. Elas têm o direito de ir e vir”, defende. Na opinião dele, o ‘pavor’
criado em torno do Pelourinho é excessivo. “É um lugar seguro”.
Segundo a coordenadora-geral do Escritório de Referência
do Centro Antigo de Salvador (Ercas), Beatriz Lima, a Secretaria da Segurança
Pública do estado (SSP-BA) atua no entorno e o problema do crack será
combatido, assim como haverá políticas públicas para os moradores de rua. “O
programa lançado pela presidente Dilma será adotado também aqui na Bahia”,
explicou. Foto: Manuela Cavadas/Grupo Metrópole