quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Modernização de patrimônio cultural e arquitetônico. Uma análise sobre a modernização Estádio Olímpico de Berlim e uma breve comparação com a situação do Estádio do Maracanã.

 FELIPE GONÇALVES DE OLIVEIRA INÁCIO
4º ano Arquitetura e Urbanismo

   A reforma de modernização do Estádio do Maracanã para a copa de 2014, tem causado uma polêmica discussão sobre a necessidade de se preservar a arquitetura de um bem cultural tombado. A marquise do estádio foi demolida, e a sua arquitetura está se descaracterizando com a desculpa de que um bem cultural que não foi tombado por sua arquitetura, mas por seu valor na cultura, pode sofrer alterações em suas características arquitetônicas para que continue exercendo o seu papel como bem cultural. Mas, não seria possível modernizar um patrimônio como esse preservando sua arquitetura, que faz parte da sua memória?


    Estádio do Maracanã Antes das reformas.                             Projeto do Estádio do Maracanã. Já sem as marquises.


   Esse questionamento nos leva a outro estádio com importância histórica, o Estádio Olímpico de Berlim, na Alemanha. Edifício iconográfico para o povo alemão e desenhado para representar toda uma ideologia, no caso a do nazismo, foi restaurado e modernizado de modo que não se perdesse esse traçado para não se esquecer desta época de erros da sociedade alemã, e para apresentar ao mundo a nova cara da Alemanha ao mundo. Devido à alta audiência da copa do mundo, o iconográfico Olympiastadion Berlinense, que seria palco da final do evento, necessitava de passar essa mensagem.
   O Projeto se baseia no respeito e sensibilidade ao original de Werner March, “A renovação e modernização de um marco histórico importante devem ser feitas com respeito arquitetônico e sensibilidade", afirma Volkwin Marg, um dos autores do projeto de retrofit do estádio pelo escritório GMP. "Cada intervenção construtiva e sua substância devem passar por análise em relação ao objeto, considerando a adequação do design.”
Olympiastadion, Estádio Olímpico de Berlim antes da sua modernização.



   A sensibilidade e o respeito são notados em dois aspectos, na metodologia de interferência nos elementos construtivos do projeto e no desenho da nova cobertura.
   No primeiro aspecto, foi feito um levantamento e catalogaram-se todas as peças de pedra e concreto que apresentavam algum tipo de patologia, para que após o seu restauro ela fosse recolocada no mesmo local onde estava antes, e se não era possível o restauro, a peça era substituída por uma do mesmo material e com características parecidas.
   Já o segundo aspecto, a cobertura, algo que não existia no projeto original e é uma das exigências da FIFA para estádios de copa do mundo, tem como conceito a não interferência na aparência externa da obra e por isso seria composta de materiais leves e estrutura esbelta que não precisasse de elementos mais altos que a fachada. O desenho da cobertura acompanha a forma do estádio, preservando a abertura no lado oposto a entrada do mesmo, pois há uma relação com Torre do sino.
Olympiastadion, Estádio Olímpico de Berlim após a modernização. É perceptível o respeito na modernização.


























Cobertura que acompanha o desenho do estádio.                                           Estrutura metálica esbelta faz um contraste respeitoso.



   A simetria do projeto, a força de sua linguagem arquitetônica neoclássica, foram respeitadas e o retrofit feito para se trazer melhorias que fariam o estádio continuar a cumprir a sua função, a de representar a cultura e a imagem do pais em um dos maiores eventos esportivos do mundo. O carinho, a preocupação com a historia de um patrimônio como este se mostra no que foi feito no projeto, a arquitetura foi respeitada e a cultura esportiva que “reside” no espaço continuam lá, fora que o gasto como o projeto não foi tão alto (150.000.000,00).
   Comparando com a situação do Maracanã, é notável certa falta de consideração com a história do edifício e foi levada em conta só a importância cultural de se ter o “Maraca” como uma dez sedes da copa. Um projeto mais bem pensado, respeitoso e sensível como foi feito na Alemanha, com uso se alta tecnologia construtiva e um restauro preciso nas partes que apresentaram patologias na analise da obra e alterações pontuais e discretas, seria mais digno do bom e velho “Maraca” e até do próprio futebol brasileiro.

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