A proposta originária de introdução da arquitetura moderna no Brasil está ligada à idéia de se criar uma arte genuinamente brasileira, símbolo da identidade cultural do país.
A arquitetura moderna brasileira, apesar de influenciada pelo movimento moderno internacional, não se ateve ao ideal de a-territorialidade e a-historicidade mundial, desenvolvendo um estilo de indentidade nacional.
Fábrica Fagus (1911/1913) de Walter Gropius, tombada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade em 2011, por ser considerada o marco da arquitetura moderna mundial.
O marco inicial do Movimento Moderno no Brasil foi em 1917 com a exposição de pinturas de Anita Malfatti em São Paulo , que gerou uma reação negativa à ausência de academicismo, com discussões conservadoras no meio artístico.
A pintura catalisou este movimento que visava a renovação do ambiente cultural, alimentados com os valores da vanguarda[1] européia (futurismo, purismo, eliminação do supérfluo).
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi uma manifestação conjunta do meio artístico, motivada pelo centenário da independência do país, comemorado no mesmo ano.
A primeira fase do modernismo ocorreu de 1917 a 1924 como uma manifestação de oposição ao passadismo e pela atualização estética.
Na segunda fase, 1924 a 1929, o modernismo passa a adotar como primordial a questão de uma cultura nacional, onde a arte deveria refletir o país em que foi criada.
Todavia, em relação à arquitetura, os arquitetos da Semana de Arte Moderna não apresentaram projetos consistentes como nas artes plásticas e literatura; além da inexistência da obra moderna construída.
“É preciso estudar o que se fez e o que se está fazendo no exterior e resolver os nossos casos sobre a estética da cidade com alma brasileira. Pelo nosso clima, pela nossa natureza e costumes, as nossas cidades devem ter um caráter diferente da Europa.
Creio que a nossa florescente vegetação e todas nossas inigualáveis belezas naturais podem e devem sugerir aos nossos artistas, alguma coisa de original dando às nossas cidades uma graça de vivacidade e de cores, única no mundo.” (Rino Levi, 1924 – O Estado de São Paulo)
Neste período que antecede a arquitetura moderna no Brasil, o Rio de Janeiro, capital do país, tinha a sua arquitetura fortemente influenciada pela cultura francesa (art nouveau) e São Paulo, pela imigração italiana (ecletismo), que não representavam a verdadeira arquitetura nacional, como fora a colonial.
Rio de Janeiro (art nouveau) São Paulo (ecletismo)
A busca pela identidade nacional aflorou durante a 1a. Guerra Mundial, quando no Rio de Janeiro houve um prestígio à arquitetura neocolonial e em São Paulo , a busca pela identidade nacional se manifestou na Semana de Arte Moderna, em manifestos e nas viagens de redescoberta da arquitetura colonial e do folclore brasileiro.
A primeira arquitetura moderna construída no Brasil foi a casa modernista de Gregori Warchavchik em 1928.
A arquitetura de Warchavchik não foi fiel ao ideário moderno europeu; a casa é de tijolo revestido e não de concreto armado, a simetria da fachada é convencional, apresenta limitações quanto ao material e técnica e o jardim plano com cactos e palmeiras constitui o aspecto mais tropical, original e brasileiro.
No governo Vargas (1930 – 1945) começa a construção de um Estado brasileiro moderno.
Lúcio Costa é nomeado para a direção da Escola Nacional de Belas Artes e convida Gregori Warchavchik e Affonso Reidy para trabalhar com ele, o que gerou revolta dos tradicionalistas.
Lúcio Costa via na arquitetura moderna brasileira uma analogia às singelas soluções populares do Brasil colônia e atribuiu vários significados à arquitetura moderna brasileira como: peculiaridade, especificidade e originalidade.
Em 1935 houve um concurso para o Ministério de Educação e Saúde e o então ministro Gustavo Capanema ignorou o resultado, convidando Lúcio Costa para projetá-lo.
Le Corbusier foi convidado para uma série de conferências no Rio de Janeiro, como álibi para realizar consultorias sobre o projeto sede do MES, sem afrontar a legislação.
O MES é a primeira arquitetura moderna de feitio brasileiro com pilotis, brises, vidro, granitos regionais e revestimento de azulejos, numa alusão à influência colonial.
Segundo Lúcio Costa, a arquitetura moderna brasileira é fruto da técnica e materiais atuais utilizados pela individualidade do gênio artístico, no qual se destaca a figura de Oscar Niemeyer.
Desta forma, a arquitetura moderna brasileira se diferencia da restante praticada no mundo por sua excepcional expressividade, inventividade e excentricidade, que contribuem para seu reconhecimento como patrimônio nacional.
A arquitetura moderna tornou-se um fenômeno internacional após a II Guerra Mundial, sendo a arquitetura moderna brasileira consolidada como uma das mais importantes manifestações do movimento.
Sobre a preservação da arquitetura moderna, podemos afirmar que existem duas vertentes: a preservação do conceito de arquitetura moderna (tecnologia e autenticidade) e a preservação do patrimônio material imóvel.
Para o reconhecimento, preservação e valorização da produção arquitetônica, urbanística e paisagística moderna brasileira foi criado o DOCOMOMO (Documentation and conservation of buildings, sites and neighborghhoods of de Modern Movement) , uma organização não-governamental, com representação em mais de quarenta países, fundada em 1988, na cidade de Eindhoven na Holanda. É uma instituição sem fins lucrativos e está sediada atualmente em Barcelona, na Fundació Mies van der Rohe, e é um organismo assessor do World Heritage Center da UNESCO.
ESTUDOS DE CASO:
- Teatro no Parque do Ibirapuera
- Residência Oswaldo Bratke
- Marquise do MUBE usada para fiação de letreiros
- Maracanã
- AEC Franca/SP
[1] Vanguarda: originária do termo militar “guarda-avançada”, corresponde aos grupos que se colocavam como inovadores militantes.
Sites relacionados:
http://www.museudacidade.sp.gov.br/modernista-imagens.phphttp://opovounido.com.br/?p=299