domingo, 31 de julho de 2011

Boas Vindas!


 Durante as férias eu viajei (só em meus pensamentos) e conheci um livro que possibilitou novas respostas ao meu incansável questionamento sobre a melhor forma de ensinar, ou seja, de transmitir aos alunos o meu conhecimento sobre patrimônio. Estou falando do livro “Aprendiz de mim: um bairro que virou escola” de Rubem Alves, que dentre os vários e ricos assuntos abordados, trata de um muito especial sobre as escolas que devemos tirar da memória.
“Acho que se pode dizer que uma escola tradicional é um naco de espaço-tempo separado do espaço-tempo da vida, com o qual não se comunica. (...). Trata-se de um espaço tempo organizado segundo princípios racionais, constantes e universais, em oposição ao espaço-tempo onde a vida acontece, a rua, o bairro, a cidade, aquela confusão, cidade não segue programa (...)”                ALVES, 2004, p.86.
Como sair deste naco de espaço-tempo e realmente preparar o aluno para a vida?
Mudanças são bem vindas, a começar pela forma de avaliação dos alunos de identidades tão diversificadas.
Eu acredito que toda avaliação tradicional, com notas de zero a dez, serve apenas para avaliar o quanto o professor conseguiu envolver seus alunos num tema proposto.
Então, ao se medir o resultado, a nota dada é ao seu trabalho e não aos seus alunos.

Sempre espero mais de meus alunos.
Desta forma, devo esperar mais de mim também.
Para melhorar é preciso errar, mudar e permitir novas tentativas sempre.
Proponho então uma nova forma de nos avaliarmos:
Sem avaliações!
Não quero respostas prontas, quero o caminho para se chegar a possíveis respostas...

Ou parafraseando Adélia Prado: "Não quero a faca, nem o queijo. Quero a fome".
De agora em diante não seremos avaliados (professora e alunos) e sim estimulados a expor nossas habilidades e dificuldades em tratar de determinados assuntos.
Desejo imensamente que este blog possa ser a nossa oportunidade de trocarmos experiências e conhecimentos com nossos colegas.
No livro O Pequeno Príncipe, Saint-Exupery narra o encontro do príncipe com um geógrafo trabalhando, em que o menino pergunta:

“Que faz o senhor aqui?”
“Sou um geógrafo,” respondeu-lhe o velho.
“Que é um geógrafo?”, perguntou o principezinho.
“É um especialista que sabe onde encontrar os mares, os rios, as cidades, as montanhas, os desertos.”
“Isso é bem interessante,” disse o Pequeno Príncipe. “Eis, afinal, uma verdadeira profissão.”
E lançou o seu olhar, ao redor, no planeta do geógrafo. Nunca havia visto um planeta tão grandioso.
“O seu planeta é muito bonito. Há oceanos nele?”
“Não sei te dizer” disse o geógrafo.
E montanhas?”
“Não sei te dizer.”
“E cidades, e rios, e desertos?”
“Também não sei te dizer”, disse o geógrafo pela terceira vez.
“Mas o senhor é um geógrafo!”
“É verdade”, disse o geógrafo. “Mas não sou um explorador. Não é o geógrafo que vai contar as cidades, os rios, as montanhas, os mares, os oceanos, os desertos. O geógrafo é muito importante para estar passeando...”  
O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupery

Onde realmente se aprende?
Vivendo e explorando, é assim que se aprende.
Então vamos explorar nossos saberes e dúvidas. Vamos compartilhar informações e opinar. Vamos viver este restinho de ano discutindo, pensando e conhecendo um pouco mais sobre nós mesmos, tendo como foco a questão do patrimônio cultural na sociedade contemporânea.
“Assim, como cidadania e cultura formam um par integrado de significações, assim também cultura e territorialidade são, de certo modo sinônimos. A cultura, forma de comunicação do indivíduo e do grupo com o universo, é uma herança, mas também um reaprendizado das relações profundas entre o homem e o meio, um resultado obtido através do próprio processo de viver.”  (SANTOS, Milton, 1987, p.61 – O Espaço do Cidadão)

Vários assuntos podem ser debatidos, tais como:
- Preservar o patrimônio para que e para quem?
- Preservar não é tombar
- Patrimônio e as relações de poder
- Patrimônio na construção da cidadania
- Patrimônio através dos sentidos

                Mas o primeiro tema que proponho é sobre o nosso patrimônio pessoal.
                Até que ponto preservamos as nossas memórias? Que cuidados temos com o nosso passado e com as coisas as quais atribuímos valor de patrimônio?Quem sabe o nome de seus bisavós sem ter que recorrer a um familiar ou aos documentos?
                Se eu não cuido do que é meu, como é que pretendo cuidar do que é do outro?
               
Tais questões me fazem lembrar que o comediante, Ronald Golias, não gostava de móveis e decorações em sua casa, pois cada objeto geraria responsabilidade e o mesmo desejava a liberdade.
               E você? Que responsabilidade tem com os seus objetos de memória?



2 comentários:

  1. Laura Salerno, (4° ano Arquitetura)14 de agosto de 2011 às 20:06

    A memória em si é algo inerente ao ser humano , assim como respirar . Não nos damos conta disso e nem de tantas outras coisas cotidianamente, e por isso, acredito que utilizamos alguns objetos como “armanezadores” de lembranças, capazes de ativar a nossa memória quando solicitada.
    Os objetos de memória são capazes de trazer à tona todas as emoções depositadas neles, e possibilitam uma forma de reviver determinados sentimentos, resgatando-os do suposto esquecimento.
    Talvez essa responsabilidade que o Ronald Golias afirmava sentir a respeito dos objetos tenha relação com isso, as lembranças nos prendem emocionalmente ao passado, contrapondo-se ao ideal de uma vida em liberdade. Existe uma frase em inglês que representa bem isso : “Leave old baggage behind; the less you carry the farther you go.” , em português: “Deixe sua antiga bagagem pra trás; quanto menos você carrega mais longe você vai” (Kelsey).
    Entretanto para mim, a memória é o que nos torna indivíduos, o que delineia nossas características e nos guia ao longo da vida. Perpetua em nós emoções boas ou más, e é uma ferramenta intrínseca capaz de nos arruinar caso não exista.

    Laura Salerno.

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  2. Vanessa de Oliveira 4 ano Arquitetura28 de agosto de 2011 às 17:18

    A memória está presente em todo o cotidiano do ser humano. Todas as suas vivencias deixam marcas na memória, sejam elas ruins ou boas. Os objetos que temos durante cada período pode ser dado por pessoas especiais, em momentos especiais, ou ter sido adquirido por nós mesmos em algum momento que vai marcar diretamente o que estamos vivendo. O momento pode ser o mesmo para todas as pessoas que nele está, porém cada um sabe aproveitar,viver, e sentir de formas diferentes.
    Acho que essa pergunta caiu em um bom momento que eu estou passando, com a reforma do meu quarto tive que me desfazer de alguns objetos dado por pessoas queridas, mas um em especial que passou de geração em geração da minha família foi mais dificil de deixar ir.
    Então quando os objetos te trazem memórias agradáveis o que você quer é viver com eles para sempre, talvez para recordar um passado que você não quer deixar ir embora. Mas temos que perceber também que não são objetos que vão te trazer essa lembrança e sim a marca que cada um tem dentro de si.
    Contudo temos que aprender a nos desfazer de objetos, o que fica na memória é o que cada pessoa consegue transmitir, deixando suas marcas.

    Vanessa de Oliveira

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